sábado, 19 de outubro de 2024

pode misturar ovo de tênia com ozempic?

Eu ando com muitas coisas na cabeça, o que é meio comum pra mim, e também ando com muitos problemas relacionados a comida, o que também é comum pra mim, [tw] sou uma mulher. Apesar de tudo isso, olhar pra internet no último ano tem me gerado um incomodo que pinicou no meu cérebro por muito tempo sem eu saber do que se tratava, até agora!

Na verdade, eu não tenho conhecimentos exatos sobre nada do que eu vou falar aqui, é tudo achismo e baseado em achados, mas se lhe for útil de alguma forma, azar o seu.

Começo: Anos 2000 e 2010

Quem viveu sabe... acho que os anos 2000-10 podem te lembrar sobre muitas coisas, mas um dos pontos mais marcantes para mim, pessoalmente, tem muito a ver sobre como os jovens eram retratados nos vídeo clipes que passavam no TVZ (sim, você tem quase 30 anos agora): gente descolada, jovem, embriagada e... extremamente magra. 

Era todo mundo meio assim

Outro dia mesmo tava assistindo o filme Gente Grande (2010) e ainda não entra na minha cabecinha molinha o quão estranhas parecem as barrigas das meninas estadunidenses nos filmes dessa época, pois mesmo sendo brasileira desde sempre e frequentando a piscina praticamente todos os dias durante a infância, era quase impossível encontrar alguém com um corpo parecido com aquele.

As mulheres com as quais eu convivi, mesmo as muito magras, nunca pareceram tão... lisas? artificiais? não sei explicar, mas a questão é que aquele padrão de barriga chapada sempre pareceu fora de qualquer uma das realidades em que eu me encontrava frequentemente.

Quando eu entrei na pré-adolescência aconteceu comigo o que acontece com quase todo mundo: comecei a lidar com sintomas de transtorno alimentar (go girl, give us nothing - meu estomago😘). O medo da rejeição assola qualquer ser humano fora do padrão e, como eu sempre tive um braço de salgadera e um corpo mais largo por natureza, não foi possível não me comparar com as outras meninas pelas quais eu era "trocada" pelos meus interesses "românticos" (tá entre aspas por motivos de "mona, vc tinha 12 anos").

Tudo isso pra tentar explicar um dos questionamentos que vem me assombrando um pouco: por que alguém iria querer trazer essa parte ruim dessa época de volta em pleno 2024?? Tipo, gente??... vamos nos omitir!! vamos trazer de volta coisas melhores, sei lá, podia até ser as camisetas com a bandeira do Reino Unido (não podia não!!!).

Dica de look para a virada do ano


Meio: Oh... a nostalgia me levou a lugares que eu não iria com uma arma.

Já pararam pra pensar na quantidade de produtos que existem no mercado na data de hoje que vendem uma ideia de nostalgia? Pois é, eu não... bom, não até ler o texto genial da Isabela Thomé no Substack. É impressionante, não teve nem como segurar essa onda, quando a gente se deu conta todas as prateleiras já estavam tomadas por produto ultraprocessado/de beleza sabor marca que ninguém se lembra/dá a mínima. Vamos lá, mesmo a Oreo já foi uma coisa maior em 2010, quando pouquíssimas pessoas tinham acesso a esse tipo de produto importado, mas em 2024... talvez isso já não seja tão atrativo assim, certo? Errado!!! o marketing do capitalismo tá aí pra provar que quem acredita sempre cansa.

Seja bem-vindo de volta, Lúcifer! 


Eu nem queria discorrer tanto sobre esse assunto por que, no fim, meu ponto aqui é só mostrar que a nostalgia é sim muito bem sequestrada pelo capitalismo quando lhe convém (e eita como convém!!) e com a moda não poderia ser diferente. 

O jovem tiktoker/instagramer tem em sua mão uma máquina muito potente para fazer merda se expressar livremente e passar a merda na parede compartilhar seus gostos e interesses online com outras pessoas, porém, isso nos lembra o velho ditado chinês: com grandes trends, vem grandes oportunidades de transformar tudo em merda produto 🌟.

As identidades parecem passar por um processo de catalogação, hashtaguízação e separação para se tornarem cada vez mais fáceis de serem consumidas em forma de produto, seja por acessórios, itens de decoração ou roupas (!!) e, sem querer me gabar, mas acho que era aqui que eu queria chegar.

Final: Vai um ovinho de tênia aí?

Hm, certo... então se a nova moda jovem é relembrar os anos 2000/2010 que tal entrarmos de cabeça nisso? Vamos sim consumir Starbucks como se fosse algo bom de verdade, vamos sim começar a ver emos na rua de novo e, claro, vamos sim usar calça de cintura baixa!! Só tem um problema... meio que a gente nunca parou de odiar pessoas gordas :/

Parece meio óbvio falar isso, mas a moda realmente nunca se importou com pessoas fora do padrão de magreza extrema (e brancas, vale dizer), apesar da gente ter tido um suave vislumbre de respiro com o auge dos movimentos body positive, era tudo meio que uma mentira que nem nós mesmos conseguimos levar pra sempre.

Acho que isso vem de uma insatisfação com a gente mesmo que nunca deixou de fazer parte do nosso dia-a-dia, a nossa autoestima nunca foi nossa de fato e os padrões nunca mudaram pois o sistema continua o mesmo. O coletivo nunca foi tão coletivo assim e a aceitação coletiva não é nem de perto interessante pra um capitalismo que se alimenta da fissura gerada pela disparidade. A aceitação com a gente mesmo depende muito da aceitação do outro, mas como eu vou aceitar o outro se ele compete diretamente comigo por atenção e por afeto? Todo mundo quer ser amado e não só isso, eu quero ser mais amado que o outro, eu quero ser mais amado que você.

Uma moda como a da década passada expõe aquilo que nunca deixou de nos fazer inseguros, nossa barriga, nossas pernas, nossos braços e nossos seios. Uma moda como a da década passada expõe para as outras pessoas as nossas inseguranças e expõe também o corpo "perfeito" do outro, que é desejado e que, principalmente, não sou eu. A blogueira fitness pode usar a moda dos anos 2000, combina com ela, eu quero ser ela. A pessoa que pega ônibus comigo não, ela não combina e não encaixa, eu não quero ser ela, eu não sou assim, esse corpo não é o meu (por mais que seja o mais próximo do meu).

Eu quero ter sucesso, eu quero ser desejado, eu quero caber.

Talvez o que essa moda evidencie seja a capacidade do sistema de gerar a antipatia, o auto ódio, a competição e a morte do eu (coletivo e singular). Uma moda que acolhe em algum momento para de vender e, bom, acho que o é importante é nunca parar de vender... nem que seja ovo de tênia.

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

caducou

Bom, faz alguns vários meses que eu me formei agora e vou dizer: já caducou essa coisa de descansar, apesar de 10 anos de cansaço não sumirem do nada, entende? Eu sei lá, talvez esteja VELHA (tenho 25 anos) e CANSADA (durmo todo dia até no mínimo as 9h da manhã) mas o fato é que nada me basta.

Eu tô de saco cheio de mim, que saco ter que ver a minha cara todos os dias... desde o último texto aqui minha vida não deu uma balançadinha, uma movimentação pra contar história e, de fato, eu não dou nem a chance pra esse azar terrível que me tiraria do tédio.

O fato é que muita coisa na minha vida mudou ano passado e esse luto todo de várias coisas tem me feito virar mais pra dentro do meu próprio umbigo (mais ainda??). Não é como se eu tivesse passado por um grande luto de alguém próximo ou da minha família, eu nunca experienciei isso e parece que vai me acontecer a qualquer momento, apesar de não parecer que vai acontecer nunca também... é uma sensação estranha, por que mesmo assim parece que eu consigo me conectar com alguns produtos de mídia que falam sobre isso.

Ontem assisti Metalhead (2013) e só hoje me bateu que, no fim das contas, eu infelizmente ainda me pego tentando abrir espaço para reviver parte do rombo que a minha família deixou em mim no decorrer do meu dia-a-dia. É complicado, mas as coisas que ainda me restam disso são felizes. Acho que é mesmo uma forma de lidar, entende?

A faculdade foi outra coisa que me deixou um buraco enorme e de sofrimento eterno, mas é engraçado como a cada dia eu descubro cada vez mais que talvez tenha gostado de algumas coisas que aprendi lá e que poderia sim ter me conectado de verdade com os 7 anos que passei naquele curso se não fosse toda a carga emocional (inaudível) ligada aquele lugar.

O tempo nunca vai voltar e, infelizmente, é preciso enfrentar demônios até morrer, por que senão a gente morre sem ter matado nenhum. 

Tô cansadinha e tô caduca, mas tô tentando.

terça-feira, 9 de abril de 2024

👁👁 olhos da rua, o terceiro olho e o olho do cu 👁👁

Ando pensando um pouco sobre como ter mudado de bairro afetou minha vida. Essa cidade é parada, morta, morrida e não tem nada aqui se você não procurar direito, eu mesma já tô mais pra lá do que pra cá pra ficar procurando, cruzes!

Aos universitários posso dizer, estar em um lugar movimentado e totalmente galera 😎 (nem tanto, universitário é tudo um igual) faz a gente se desacostumar a viver o mundano, o normal, a vidinha como ela é: chata. Acho impressionante como tem gente viva nessa cidade (e nesse bairro) que sempre viveu isso e tá com mais de 70 anos... eu já teria me matado.

Tudo é extremamente calmo, falta vida, falta movimento, faltam pessoas, faltam olhos, tudo aquilo que poderia indicar um algo tá em falta por aqui. Meu TOC simplesmente não consegue lidar com a falta disso tudo, é como se ninguém me visse e isso, apesar de parecer reconfortante, é um sufoco imenso pois, pensar em sair de casa me traz ansiedade e a ansiedade não me deixa sair, daí é que eu entro no meu próprio cu (aplausos👏).

Claro, nesses momentos eu tenho que abrir a caixinha da racionalidade✰ e me perguntar o porquê dessa baderna, dessa desordem que insiste em dizer que é sensitiva, que tá vendo o perigo com o terceiro olho👁... Tá vendo nada não querida, vai pela sombra viu! (maluca)

Impossível relaxar num mundo que ao mesmo tempo que te entrega tudo pela internet, parece entregar apenas depressão no mundo real, esse efeito sanfona do cérebro está ameaçando nos matar usando uma tesoura sem ponta, que mortinha lenta hein! ooo delícia!

eu si divirto

 [Isso aqui foi escrito ano passado e achei engraçado, postei]

As vezes eu queria esquecer tudo que eu vivi, não necessariamente por terem sido coisas ruins, até por que eu queria esquecer mais as coisas boas mesmo, o que fez querer ir pra frente e enfrentar os dias no passado... Acho que esquecer tudo isso me faria de alguma forma conseguir viver mais o presente, sem a ansiedade de passar por momentos difíceis e chatos correndo pra poder viver essas coisas de novo e de novo.

A chateação pode matar alguém, literalmente falando, os níveis de cortisol podem subir muito se sua vida for um tédio.

Eu si divirto, mas tem hora que eu tenho que trabalhar... daí eu não me divirto mais, daí puff cadê eu? Tô lá morrendo de tédio.

Aprender a lidar com os altos e baixos da vida tem dessas, os baixos já não são tão baixos.. mas ainda fazem dum dum dum na minha cabeça, isso não vai mudar, é instrumento bem simples.